«O que é um ocapi?» é uma pergunta a que se responde com facilidade por meio de um acto de observação empírica. Analogamente, «Qual é a raiz cúbica de 729?» é uma pergunta cuja resposta pode ser fornecida mediante um cálculo operado mediante certas regras estabelecidas. Mas se perguntar «O que é o tempo?», «São todos os homens realmente irmãos?», como farei para procurar a resposta? Se eu perguntar «Onde está o meu casaco?», uma resposta possível (correcta ou não) poderá ser «No armário», e todos saberemos onde procurar o casaco. Mas se uma criança me perguntou: «Onde está a imagem no espelho?», seria pouco profícuo convidá-la a olhar para dentro do espelho, que ela descobriria ser feito de vidro sólido; ou a procurar a imagem na superfície do espelho, uma vez que ela não está decerto nessa superfície como estaria um selo nela gravado; ou a ir ver por trás do espelho (onde aparentemente se diria que está a imagem), uma vez que por trás do espelho não há qualquer imagem - e assim por diante. (...) as questões sobre o tempo, a existência dos outros e assim por diante induzem no que as põe um estado de perplexidade, e irritam as pessoas práticas na justa medida em que não parecem conduzir a respostas claras ou a qualquer conhecimento útil.»
Isaiah BERLIN, O poder das ideias (Relógio d'Água).
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