quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Estou na Lua





EMBRIAGA-TE

Devemos andar sempre bêbedos. Tudo se resume nisto: é a única solução. Para não sentires o tremendo fardo do Tempo que te despedaça os ombros e te verga para a terra, deves embriagar-te sem cessar.
Mas com quê? COM VINHO, COM POESIA OU COM A VIRTUDE, a teu gosto. Mas embriaga-te.
E se alguma vez, nos degraus dum palácio, sobre as verdes ervas duma vala, na solidão morna do teu quarto, tu acordares com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que se passou, a tudo o que gemeu, a tudo o que gira, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunta-lhes que horas são: «São horas de te embriagares! Para não seres como os escravos martirizados do tempo, embriaga-te, embriaga-te sem cessar! Com vinho, com poesia, ou com a virtude, a teu gosto.»
Charles BAUDELAIRE, O spleen de Paris (Relógio d'Água).
Na imagem: Herdade dos Grous (Moon Harvested). Há uma empresa em Inglaterra que procura o melhor momento para colher os produtos vegetais, de acordo com a influência da lua na circulação da seiva na planta. Estão convictos de que há ciclos anuais, mensais e até diários que originam diferenças na planta, devendo ela ser colhida no momento ideal. Em 2006, a Herdade dos Grous estabeleceu um protocolo com essa empresa que, pela primeira vez, aplicou os seus princípios à viticultura. O vinho recebeu o nome de "Moon Harvested".

sábado, 21 de novembro de 2009

Onde está o meu casaco?


«O que é um ocapi?» é uma pergunta a que se responde com facilidade por meio de um acto de observação empírica. Analogamente, «Qual é a raiz cúbica de 729?» é uma pergunta cuja resposta pode ser fornecida mediante um cálculo operado mediante certas regras estabelecidas. Mas se perguntar «O que é o tempo?», «São todos os homens realmente irmãos?», como farei para procurar a resposta? Se eu perguntar «Onde está o meu casaco?», uma resposta possível (correcta ou não) poderá ser «No armário», e todos saberemos onde procurar o casaco. Mas se uma criança me perguntou: «Onde está a imagem no espelho?», seria pouco profícuo convidá-la a olhar para dentro do espelho, que ela descobriria ser feito de vidro sólido; ou a procurar a imagem na superfície do espelho, uma vez que ela não está decerto nessa superfície como estaria um selo nela gravado; ou a ir ver por trás do espelho (onde aparentemente se diria que está a imagem), uma vez que por trás do espelho não há qualquer imagem - e assim por diante. (...) as questões sobre o tempo, a existência dos outros e assim por diante induzem no que as põe um estado de perplexidade, e irritam as pessoas práticas na justa medida em que não parecem conduzir a respostas claras ou a qualquer conhecimento útil.»

Isaiah BERLIN, O poder das ideias (Relógio d'Água).

Bom dia (que é já boa tarde)


sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A Loba Branca



As Luzes Brancas de Paris (La Louve Blanche, no original) é um livro que se lê com um misto de candura e negrume. O tempo do romance atravessa uma Europa conturbada pela sangrenta revolução bolchevique de 1917, passando pelos anos 20 e 30 (e a tenebrosa ascensão de Hitler ao poder) e termina no final da Segunda Guerra Mundial. Pelo meio há tempo para a luta pela sobrevivência, o amor, a esperança, o prazer, a traição, a moda e a política. E finalmente a tirania e a guerra. As personagens que nos interessam estão carregadas de dramatismo e tenacidade, mas sobretudo duma grande dignidade e fidelidade a si próprias e aos outros. O acaso (não confundir com o destino) pode fazer de nós muito daquilo que não estávamos destinados a ser, mas pode ao mesmo tempo abrir novos e inexoráveis horizontes que testam os nossos limites até onde não poderíamos imaginar. As cidades de Sampetersburgo e principalmente Paris e Berlim são o eixo geográfico onde se desenrola toda a acção. Esta é sobretudo uma história que não nos deixa esquecer que naqueles anos dramáticos pessoas mais ou menos anónimas continuavam as suas vidas condicionadas pelas decisões dos grandes e poderosos. Que por isso mesmo tiveram de fazer opções que ajudaram a perpetrar o mal ou a lutar contra ele, com risco da própria vida. Uma história que poderia ser a nossa se o tempo e os lugares fossem os nossos.
Na parte que toca a Paris, por vezes sentia-me como se estivesse em plena acção, pois muitos dos sítios referidos são do meu conhecimento (embora nem sempre sejam os mais turísticos) como a Catedral Saint Alexandre Nevsky na rue Daru; neste post cheguei mesmo a publicar uma fotografia que fiz numa altura em que por lá passei e até participei na missa, uma coisa verdadeiramente hierática e "esmagadora" (desculpem esta despretensiosa nota pessoal).
É uma sugestão que vos deixo para o fim-de-semana.
Bon week end.
Sinopse:
"Expulsa de Sampetersburgo pela Revolução Bolchevique, uma jovem russa branca, Xénia Ossoline, refugia-se em Paris para proteger os seus. Descobre o mundo da alta-costura em plena efervescência dos loucos anos 20. O seu encontro com o sedutor fotógrafo alemão Max von Passau perturba a sua existência. No coração de uma Europa a braços com o crescimento dos totalitarismos, vivem uma paixão tumultuosa. A subida ao poder de Adolf Hitler incita os alemães íntegros a juntarem-se à Resistência, pondo a vida em perigo. Artista reputado, Max apoia incondicionalmente uma das suas antigas paixões, uma jovem judia proprietária de um grande estabelecimento berlinense. Mas, por detrás das máscaras nazis mundanas e polidas dos anos 1930, perfila-se a guerra, e Xénia e Max são confrontados com escolhas dramáticas."
Theresa RÉVAY , As Luzes Brancas de Paris, Círculo de Leitores, Lisboa 2009.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Ui que preguiça... E ainda não é meio-dia!

O escravo, M. Ângelo (Louvre 09)

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Remar

contra a maré

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

DEUS...

PODE ARREPENDER-SE?

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Muros

Ainda bem que caem os muros. O problema é que por vezes com as pedras que ficam pelo chão se constroem depois outros muros.
Good bye, Lenin.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Conhecer e ver a Deus

«La divine Ténèbre est l'inaccessible lumière
òu Dieu est dit habiter (1Tm 6, 16).
Elle est invisible à cause de sa clarté transcendante,
elle est inaccessible à cause
de la surabondance de sa
suressentielle effusion de lumière.
En elle naît tout homme
qui est digne de connaître
et de voir Dieu.
Et c'est par le fait même
de ne Le voir, ni Le connaître,
qu'il s'élève vraiment dans
ce qui est au-delà de la vue
et de la connaissance.»
Pseudo-Denys, l'Aréopagite, Lettre V.

terça-feira, 3 de novembro de 2009