sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A Loba Branca



As Luzes Brancas de Paris (La Louve Blanche, no original) é um livro que se lê com um misto de candura e negrume. O tempo do romance atravessa uma Europa conturbada pela sangrenta revolução bolchevique de 1917, passando pelos anos 20 e 30 (e a tenebrosa ascensão de Hitler ao poder) e termina no final da Segunda Guerra Mundial. Pelo meio há tempo para a luta pela sobrevivência, o amor, a esperança, o prazer, a traição, a moda e a política. E finalmente a tirania e a guerra. As personagens que nos interessam estão carregadas de dramatismo e tenacidade, mas sobretudo duma grande dignidade e fidelidade a si próprias e aos outros. O acaso (não confundir com o destino) pode fazer de nós muito daquilo que não estávamos destinados a ser, mas pode ao mesmo tempo abrir novos e inexoráveis horizontes que testam os nossos limites até onde não poderíamos imaginar. As cidades de Sampetersburgo e principalmente Paris e Berlim são o eixo geográfico onde se desenrola toda a acção. Esta é sobretudo uma história que não nos deixa esquecer que naqueles anos dramáticos pessoas mais ou menos anónimas continuavam as suas vidas condicionadas pelas decisões dos grandes e poderosos. Que por isso mesmo tiveram de fazer opções que ajudaram a perpetrar o mal ou a lutar contra ele, com risco da própria vida. Uma história que poderia ser a nossa se o tempo e os lugares fossem os nossos.
Na parte que toca a Paris, por vezes sentia-me como se estivesse em plena acção, pois muitos dos sítios referidos são do meu conhecimento (embora nem sempre sejam os mais turísticos) como a Catedral Saint Alexandre Nevsky na rue Daru; neste post cheguei mesmo a publicar uma fotografia que fiz numa altura em que por lá passei e até participei na missa, uma coisa verdadeiramente hierática e "esmagadora" (desculpem esta despretensiosa nota pessoal).
É uma sugestão que vos deixo para o fim-de-semana.
Bon week end.
Sinopse:
"Expulsa de Sampetersburgo pela Revolução Bolchevique, uma jovem russa branca, Xénia Ossoline, refugia-se em Paris para proteger os seus. Descobre o mundo da alta-costura em plena efervescência dos loucos anos 20. O seu encontro com o sedutor fotógrafo alemão Max von Passau perturba a sua existência. No coração de uma Europa a braços com o crescimento dos totalitarismos, vivem uma paixão tumultuosa. A subida ao poder de Adolf Hitler incita os alemães íntegros a juntarem-se à Resistência, pondo a vida em perigo. Artista reputado, Max apoia incondicionalmente uma das suas antigas paixões, uma jovem judia proprietária de um grande estabelecimento berlinense. Mas, por detrás das máscaras nazis mundanas e polidas dos anos 1930, perfila-se a guerra, e Xénia e Max são confrontados com escolhas dramáticas."
Theresa RÉVAY , As Luzes Brancas de Paris, Círculo de Leitores, Lisboa 2009.

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