«A acção dos sacerdotes centrava-se no santo ofício da missa, pois "é através da missa que Cristo se torna presente". Por conseguinte, todos os Domingos e dias santos celebravam-se missas, muitas das quais eram cantadas e acompanhadas de pregação (...) Porém, a missa a bordo era, por via de regra, ministrada, faltando "a principal couza da solemnidade e devoção", isto é, "o Santíssimo Sacramento". A missa sem pão nem vinho designada de "missa seca", começou a ser celebrada após o Concílio de Trento, baseada na sessão X-XII, pelo Decreto De observandis et evitandis in celebratione Missae, de 17 de Setembro de 1562. Apesar de os embarcados, na viagem da Carreira da Índia, correrem sempre o risco de perecer por fome, sede, tempestades, doenças epidémicas e naufrágios, o que parece motivo mais que suficiente para comungar a bordo, era proibida a missa com o verdadeiro Sacrifício Eucarístico pelo perigo de derramamento das espécies sacramentais. Deste modo, com a ausência da presença manifesta de Cristo, não se podia satisfazer a devoção dos que viviam as vicissitudes de uma longa e arriscada viagem como a da Carreira da Índia. Quando o padre Fulvio Gregorii informa acerca da permanência de 15 dias em Moçambique, em que os clérigos não só pregaram como também confessaram e comungaram, lamenta-se dos muitos dias que tinham passado sem o santíssimo sacramento.»
Kioko KOISO, Mar, Medo e Morte: aspectos psicológicos dos náufragos na História Trágico-Marítima, nos testemunhos inéditos e noutras fontes, vol. I, Patrimonia, Cascais 2004.
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