quinta-feira, 31 de julho de 2008

Platão e Magalhães


Esta coisa do Magalhães (um patrício de Sabrosa) portátil, para "jovens dos sete aos setenta e sete", tão freneticamente anunciada pelo Primeiro faz-me pensar, por osmose, na alegoria da caverna de Platão (República, livro VII). Na verdade, o nosso Primeiro, sempre tão voluntarista, parece não distinguir as sombras das coisas reais. Com a crise a apertar e os índices de confiança "en baisse" há que iludir a realidade e pela enésima vez deitar mão do milagroso Plano Tecnológico, desta vez destinado às criancinhas do Primeiro Ciclo (para quando um portátil para recém-nascidos?). Uma sombra enorme este Plano. Em termos técnicos podem ver aqui a opinião deste colega. Em termos políticos esta panaceia supostamente vai fazer render o peixe durante o próximo ano até às eleições. O mal não está nos computadores ou na banda larga, o mal está em pensar-se que só por si o computador vai contribuir para fazer génios em massa ou para um igualitarismo "sem classes". Por sua vez, a inefável Maria de Lurdes já enviou o recado para as escolas: organizem-se para levar a salvação a todas as criancinhas que o desejarem. Nihil novi sub sole.

Adenda: o presidente da Intel louvou a agressividade do governo português para que este projecto fosse possível; assim o dito governo fosse agressivo em cumprir promessas ou em negociações em Bruxelas. Laissez tomber.

1 comentário:

Artur Coelho disse...

O plano tecnológico tem as suas virtudes, tecnológicas, entenda-se. Mas assenta muito na estratégia do construam que eles vêem, ou no caso do magalhães venham a mim as criancinhas. Enquanto nos deslubramos com as maravilhosas máquinas, faltam os projectos de fundo que nos permitam tirar o melhor partido possível da maquinaria. mas isso implica pensar além da caverna.