domingo, 13 de dezembro de 2009

Santa Luzia em Vila Real


Neste dia de Santa Luzia, em Vila Real, manda a tradição que as raparigas da cidade ofereçam o pito aos rapazes seus eleitos, para que no dia 3 de Fevereiro, dedicado, na liturgia, a São Brás, os rapazes retribuam a oferta com a gancha.
Para que não haja confusões, convém referir, que
o pito é um bolo com recheio de doce de calondro e a gancha um rebuçado em forma de báculo episcopal.

A lenda

Foi uma moçoila da aldeia de Vila Nova, em Vila Real, que os inventou quando foi servir para o Convento de Santa Clara, onde tomaria o hábito depois dum noviciado entre a cozinha e o apoio aos pobres e aos doentes a que a ordem, na sua misericórdia e caridade infinitas, dava guarida de hospital.
Maria Ermelinda Correia, depois Irmã Imaculada de Jesus, era deveras gulosa. Foi este defeito que levou a família a pedir a graça da clausura na esperança de lho transformar em virtude.
(...) No intervalo dum silêncio de «regra» conventual, quando falava de doces a resposta era sempre a mesma: «nem vê-los».
Na sua inocência, começando a percorrer os caminhos da Fé e da Doutrina para o noviciado tornou-se devota acérrima de Santa Luzia, orago dos cegos e padroeira das coisas da vista.
Foi assim que os pitos de Santa Luzia lhe foram consagrados, e como tal testemunha a festa que ainda hoje, a 13 de Dezembro, na capela de Vila Nova, mantém a tradição.

E como aparecem os Pitos?

A ainda Ermelinda, aspirante a irmã Imaculada de Jesus, tendo ouvido a história do Milagre das Rosas, a orar a Santa Luzia teve uma visão que lhe aplacou a alma num milagre de doces esperanças.
Naquela manhã fizera o curativo a uns quantos doentes. Na maioria dos casos foram feridas, contusões e inchaços nos olhos. O remédio daquele tempo eram os «pachos de linhaça».
Eram uns quadrados de pano cru onde se colocava a papa, dobrados de pontas para o centro para não verter a poção. Eram colocados, como um penso, no ferimento.
Correu à cozinha e fez uma massa de farinha, pois a pouco mais tinha acesso, e cortou-a em pequenos quadrados. Não tinha doce mas, tendo guardado o cibo de açúcar que lhe cabia em ração, fez uma compota de abóbora.
Dobrou a massa por cima da compota, à imagem dos «pachos», e cozeu-os no forno sempre quente a qualquer hora do dia. Despachou-se de seguida a escondê-los debaixo do catre da sua cela.
No caminho cruzou-se com a Madre Superiora (que era praticamente cega). No meio da escuridão a abadessa pergunta-lhe o que leva no tabuleiro. A velha senhora ainda empina o nariz para ver se adivinha pelo cheiro.
«São pachos de linhaça irmã Madre... Para os meus doentes que amanhã virão».
Não eram muito agradáveis à vista mas, satisfaziam-lhe a gula e calavam na profundeza da alma o pecado que não se sentia porque comendo-os na escuridão da cela e da noite, sabia, porque o tinha ouvido dizer, «do que não se vê não se peca».
A tradição ainda é o que era.

Na imagem: Pitos de Santa Luzia

Receita

Ingredientes

Massa: Farinha; sal; água; ovos
Recheio: Abóbora; açúcar; canela

Preparação

Num alguidar mistura-se a farinha, os ovos, o sal e a água até obter uma massa consistente. Forma-se uma bola com a massa, polvilha-se com farinha e deixa-se a massa a descansar.
Durante o tempo de espera prepara-se o recheio. Coze-se a abóbora passando-a pelo “passe-vite”. A este puré é adicionado o açúcar e a canela.
Estende-se a massa com o rolo e cortam-se quadrados de massa, colocando-se no centro destes uma colher de recheio. Juntam-se os cantos do quadrado de massa formando uma trouxinha. Levam-se ao forno num tabuleiro polvilhado com farinha.

Fonte: Espigueiro, Central de Informações Regionais.

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