sábado, 5 de dezembro de 2009

"You can erase someone from your mind. Gettig them out of your heart is another story."


No filme "O Despertar da Mente" - Jim Carrey (Joel) e Kate Winslet (Clementine) - Joel fica chocado ao descobrir que a sua namorada Clementine apagou as memórias da agitada relação que mantiveram. Por sua vez e desesperado, ele contacta a empresa Lacuna, Inc. e o médico inventor deste processo, para que ele elimine todas as suas recordações de Clementine. Ao fazer a viagem pelas suas memórias e o seu progressivo desaparecimento, Joel redescobre todas as razões que o levaram a apaixonar-se por Clementine. À medida que o Dr. Mierzwiak e a sua equipa perseguem todos os episódios que deverão ser apagados, Joel tenta, desde a sua mente, salvar Clementine dentro da sua memória.
O que poderá levar alguém a querer apagar da sua memória a recordação duma pessoa, de factos, sentimentos ou acontecimentos? Se isso fosse realmente possível, recorreríamos a esse processo como quem recorre a uma simples cirurgia plástica? E no final do processo seríamos ainda nós a sair da máquina de apagar memórias? E que relação poderíamos estabelecer entre "razão" e "coração"? Se é verdade que o coração tem razões que a razão desconhece (Pascal) será que um acontecimento negativo que nos obrigasse a apagar outras boas recordações que estivessem relacionadas com aquele seria suficiente para nos fazer carregar na tecla "delete"? E se, como dizia Bergson, toda a consciência é memória e tudo o que vivemos subsiste no espírito e pode, em última análise, voltar a ser consciente, será que o apagamento de recordações de factos passados afectaria a nossa consciência e a consciência que temos de nós próprios e dos outros? São apenas hipóteses académicas, mas como a realidade ultrapassa a ficção, por vezes dou comigo a pensar no facto extraordinário do "coração" nos trazer à consciência memórias que a"razão" tentou apagar. Ou conscientemente a querer apagar recordações que mal tive tempo de compreender. Mas muitas vezes, infelizmente, a razão é que prevalece. E com razão.

Sem comentários: